
Algumas mulheres são mais do que mães, são supermães, categoria acima de qualquer super-herói que você conheça. Elas cuidam dos filhos com todo amor e carinho. São capazes de gerir a vida da família sem qualquer manual de instrução, no puro instinto; sem contar com nenhuma rede de apoio e, pior, sem ter com quem desabafar, sem um ombro para chorar e sem um colo para descansar. Descanso, aliás, não é palavra no dicionário das mães.
Muitas dessas mulheres não têm o pai dos filhos ao lado. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas aponta que 11 milhões de brasileiras criam seus filhos e filhas sozinhas. Entre elas, 72,4% não têm rede de apoio próxima. Essas mães-solo representam 15% dos lares brasileiros. Não parece, mas é muito.
Entretanto, ainda que viva com o pai dos seus filhos, muitas dessas mães não podem, por muitos motivos, contar com eles no cuidado, na educação e nem no sustento das crianças e adolescentes. Na cultura machista, esse pai tem o direito de descansar porque o trabalho da casa e com os filhos é papel feminino.
Temos aí um paradoxo. Os jovens de hoje são filhos de uma geração de supermães às quais foi exigido trabalhar fora de casa, mas sem se livrar do trabalho dentro da casa. As supermães vestiram, alimentaram e criaram seus filhos todo dia junto com 8 horas de trabalho fora de casa, com salários piores do que os dos homens.
A essas mulheres nada se ofereceu como uma alternativa a este modelo baseado na renúncia à sua própria vida. Muitos pais não estiveram à altura, nem se privaram do seu bem-estar. A verdade precisa ser dita: numa sociedade patriarcal, machista, misógina e sexista como a brasileira, a maioria das mães tem que se sacrificar para criar os filhos. E é esse sacrifício que as novas gerações não querem mais, por isso lutam pelo direito de a mulher ser mãe apenas quando desejar e não por obrigações sociais ou pela lei.
Já ou da hora do amor de mãe ser sinônimo de esgotamento (físico e mental). Já ou da hora dessa supermulher viver em renúncia e solidão. Por isso a sociedade, como um todo, precisa construir um futuro (próximo) com mais colo e mais e para quem decide ser mãe.
São necessários vários tipos de es. e humano, com uma rede de apoio. e social, com políticas públicas que ajudem, de verdade, quem deseja (e também quem não deseja) a maternidade. E o e econômico, com condições dignas para criar os filhos.
Nenhuma mãe deveria sentir o peso do mundo só nos seus ombros. Nossa gratidão às mães deveria se transformar em ações por um amanhã (repito, próximo) onde a supermãe seja, apenas, uma heroína de histórias e não a realidade do presente.
O mundo precisa de mães e não de supermães. O mundo precisa de amor e afeto, não de sacrifícios e renúncia. O mundo não precisa de supermães, precisa de mães, pais, estrutura social e econômica suficientes para a mulher que decide ser mãe poder amar e educar seus filhos em liberdade e dignamente.
Ayne Regina Gonçalves Salviano é graduada em jornalismo e marketing digital. Especialista em metodologia didática. Mestre em comunicação e semiótica, com MBA Internacional em gestão educacional.
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