
Mais uma vez, a tão aguardada licitação do transporte coletivo em Campinas esbarra no velho obstáculo: quem vai pagar a conta da transição para a mobilidade elétrica? Desta vez, o que chama atenção é a forma como a Prefeitura recua de um plano que ela mesma alardeou como solução definitiva.
- Clique aqui para fazer parte da comunidade da Sampi Campinas no WhatsApp e receber notícias em primeira mão.
No ano ado, o discurso era claro: seriam adquiridos 256 ônibus elétricos por meio de empréstimo do PAC da Mobilidade Urbana Sustentável. O valor? Quase R$ 1 bilhão. A promessa ganhou destaque na campanha de reeleição do prefeito Dário Saadi, foi celebrada em evento com a presença do presidente Lula e vendida como um o histórico para a modernização do sistema.
Agora, sem muito alarde, a própria istração ite que aquele modelo não era tão viável. Segundo a nota oficial, a operação do PAC anterior não era “a fundo perdido”, mas um empréstimo pesado, que comprometeria a capacidade de investimento da cidade em outras áreas. Ou seja, um vai e vem infinito dessa novela.
A nova solução é aderir ao PAC Continuado, uma linha de financiamento pelo FGTS que permite que as empresas vencedoras da licitação também assumam parte do financiamento. Em outras palavras: o governo municipal tira o pé do acelerador, segue querendo transferir o risco para o setor privado e retoma o discurso de “vamos ver depois”.
O prefeito tenta suavizar: “Com essa nova possibilidade, teremos condições de concluir a licitação antes de fazer o empréstimo”. Mas o recado real é outro: a quantidade de ônibus elétricos vai depender da capacidade das empresas de financiar a frota — e do fôlego fiscal da própria Prefeitura. Vale lembrar que no edital que está em consulta pública, o número de veículos eletrificados está em cerca de 60, porém neste último capítulo da tal “Pac Continuado” a gestão não cravou uma quantidade.
Ou seja, praticamente voltamos à estaca zero. Sem compromisso claro de entrega, sem cronograma, com decisões empurradas para depois da concorrência pública.
Não é só questão de mudança técnica. É um revés político. Especialmente porque o programa anterior foi usado como vitrine eleitoral — e agora se mostra insustentável. É legítimo repensar caminhos. O problema é que a Prefeitura vendeu otimismo e agora entrega incerteza.
E tudo isso afeta diretamente a principal dor do usuário: a qualidade do serviço. Campinas tem um sistema visivelmente degradado, caro e mal avaliado. A licitação, que se arrasta, ainda é um papel de intenções — e cada recuo como esse distancia ainda mais o resultado efetivo. Enquanto isso, o usuário segue esperando no ponto.
Só 3
Apenas três dos 50 novos ônibus prometidos para reforçar o transporte coletivo de Campinas começaram a circular nesta segunda-feira (10), integrando a frota da linha 114 (Jardim Melina / Corredor Central), que conecta o eixo Ouro Verde ao Centro. A medida faz parte do plano emergencial da Prefeitura para mitigar a degradação do sistema e substituir veículos antigos, mas a implementação avança a os lentos.
Os três veículos em operação fazem parte do primeiro lote de 30 ônibus adquiridos pelas operadoras VB Transportes Urbanos (20 unidades) e Onicamp Transporte Coletivo (10 unidades). Eles mantêm a atual oferta da linha 114 nos horários de pico, com seis ônibus rodando simultaneamente.
Com capacidade para 70 ageiros (38 sentados e 32 em pé), os novos coletivos foram destinados prioritariamente a uma das rotas de maior fluxo da cidade. Os demais veículos do primeiro lote ainda am por processos de pintura, vistoria e regularização documental antes de entrarem em circulação.
Segundo a Emdec, outras linhas serão gradualmente contempladas nos próximos dias, conforme os veículos forem liberados. Um segundo lote, com mais 20 ônibus da VB Transportes, deve ser incorporado nas próximas semanas, totalizando os 50 ônibus prometidos pela Prefeitura.
A lenta substituição da frota ocorre em um momento de desgaste no transporte público municipal, pressionado por reclamações sobre superlotação, atrasos e veículos sucateados. O tema é um dos pilares do novo edital de licitação do sistema, que está em fase de consulta pública e promete soluções definitivas para modernização do setor.
O novo comando da ACIC
A posse de Nina Bertelli como nova presidente da Associação Comercial e Industrial de Campinas (ACIC), marcada para esta quinta-feira (15), representa uma inflexão importante no comando da entidade. Depois de décadas orbitando entre duas figuras centrais — Adriana Flosi e Guilherme Campos —, a entidade aposta em renovação e reposicionamento institucional, em meio a novos desafios do setor produtivo regional.
O evento será realizado às 10h, no auditório da ACIC, na Rua José Paulino, e deve reunir autoridades, empresários e representantes de entidades regionais. Nina chega ao cargo com ampla bagagem no setor empresarial, prometendo reforçar a voz dos empreendedores campineiros, ampliar a atuação da entidade no debate público e incentivar práticas de desenvolvimento sustentável.
Sua nomeação encerra uma hegemonia que marcou a política interna da ACIC nas últimas décadas.
A expectativa agora gira em torno de como Nina Bertelli vai conduzir uma transição simbólica, ao mesmo tempo em que tentará manter o protagonismo da ACIC no ambiente institucional da cidade.
Em tempos de transformações no setor varejista, pressão por digitalização e mudanças no perfil de consumo, a nova presidência terá como missão central articular inovação sem perder a interlocução política construída historicamente.
HIDS em Barão
O prefeito de Campinas, Dário Saadi, participa nesta quarta-feira (14), às 9h30, da apresentação do projeto HIDS (Hub Internacional para o Desenvolvimento Sustentável), ao lado do governador em exercício de São Paulo, Felício Ramuth. A agenda começa com entrevista coletiva na sede da Inova Unicamp, localizada na Fazenda Argentina.
Após a coletiva, as autoridades seguem com visitas técnicas ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) e, em seguida, ao Instituto de Pesquisas Eldorado, dois dos principais pontos de inovação e ciência envolvidos na consolidação do projeto.
O HIDS é uma iniciativa estratégica que visa transformar a região em um polo global de desenvolvimento sustentável, reunindo universidades, centros de pesquisa, poder público e setor privado. A proposta é integrar ciência, tecnologia e inovação a ações sustentáveis, consolidando Campinas como referência internacional em soluções ambientais e urbanas.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: [email protected].