
O caso envolvendo o desvio milionário de verbas públicas da Fapesp na Unicamp atinge proporções gravíssimas — tanto pelo valor envolvido quanto pelas falhas estruturais reveladas. A principal acusada, Ligiane Marinho de Ávila, teria movimentado mais de R$ 6,6 milhões em sua conta pessoal entre 2018 e 2023, sendo R$ 5,3 milhões em fraudes atribuídas diretamente a ela. Procurada pela Interpol, hoje vive na Europa, longe do alcance imediato das autoridades brasileiras. A operação criminosa foi baseada em notas fiscais frias, empresas de fachada e total descontrole istrativo.
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A gravidade do caso não se restringe ao desvio em si, mas se aprofunda na lentidão institucional. Embora o Ministério Público tenha solicitado medidas em setembro de 2024, como a prisão preventiva, a ré deixou o país meses antes — em fevereiro. Ou seja, houve tempo hábil para uma ação preventiva mais rápida, o que não ocorreu. É compreensível que apurações complexas exijam cautela, mas o tempo excessivo até a internacionalização da denúncia favoreceu a impunidade e compromete a credibilidade do processo.
A posição da Unicamp também é desconfortável. Uma sindicância inicial foi arquivada sem responsabilizações. A universidade só reabriu o processo após a pressão de novas provas do Ministério Público. Isso mostra uma falha inaceitável na reação institucional, principalmente diante de um golpe que durou anos e utilizou senhas, cartões e os aos quais a servidora nunca deveria ter controle ir. A fragilidade dos sistemas de monitoramento e prestação de contas é evidente, ainda mais quando se trata de recursos públicos destinados à ciência.
A situação dos pesquisadores é outro ponto sensível. A Fapesp move 34 ações contra docentes que, segundo a fundação, foram no mínimo negligentes. Ainda que alguns tenham denunciado as fraudes, como alegam suas defesas, a omissão quanto ao controle financeiro de seus próprios projetos não pode ser ignorada. A prática de delegar completamente a gestão financeira a terceiros, como apontado, é incompatível com o rigor esperado em instituições científicas de ponta como a Unicamp.
Neste cenário, todos perdem: a universidade, os pesquisadores sérios, o financiamento à ciência e a imagem do país. É necessário que o MP acelere as conclusões e que a Unicamp adote medidas estruturais reais, e não apenas recomendações protocolares, para garantir que situações como essa não se repitam. O caso também escancara a necessidade de mais auditorias preventivas nos convênios com fundações e órgãos de fomento.
A confiança pública em instituições de pesquisa só será recuperada com transparência, responsabilização firme e mudanças concretas. A ciência brasileira — já pressionada por falta de recursos — não pode arcar com mais esse desgaste.
Nota da Unicamp
A Unicamp recebeu, em 5 de maio, manifestação do Ministério Público datada de 30 de abril, com a apresentação de novos indícios relacionados ao caso, além de ofício assinado às 15h31, solicitando a instauração de sindicância istrativa. Importante destacar que a Universidade tomou conhecimento da manifestação e dos documentos mencionados apenas na referida data.
A Unicamp solicitou ao Ministério Público o envio das cópias das folhas citadas. A Universidade já recebeu o material, que está sendo analisado e enviará resposta dentro do prazo de 30 dias estabelecido.
A Unicamp apurou os fatos internamente por meio da instauração de sindicância istrativa, na qual foram ouvidos diversos servidores e analisados documentos pertinentes. Ao final dos trabalhos, a Comissão de Sindicância recomendou a adoção de medidas istrativas voltadas à melhoria dos escritórios de apoio, concluindo pelo arquivamento do processo.
Importante esclarecer que os recursos em questão são oriundos da FAPESP. Nas ações movidas por docentes contra a FAPESP, a Unicamp e a FUNCAMP, as decisões de mérito têm sido favoráveis à Universidade, com a condenação dos docentes ao ressarcimento dos valores à fundação. Assim, até o momento, não há risco concreto ao patrimônio público da Unicamp.
Cabe ressaltar que a apuração conduzida pela Universidade se restringe à esfera disciplinar. Até a última manifestação do então reitor, professor Antonio José de Almeida Meirelles, em 16 de abril, não haviam sido apresentadas novas provas que justificassem a abertura de novo processo de sindicância mais específico. No entanto, conforme registrado na própria decisão do reitor, seria necessário aguardar o avanço do Inquérito Policial instaurado e das ações judiciais em curso contra a Universidade para eventual reavaliação do caso.
Nesse sentido, a Unicamp reitera que não houve qualquer omissão por parte do ex-reitor na condução do caso, tendo ele determinado a apuração dos fatos e instaurado sindicância istrativa.
Multa aos invasores
A Câmara Municipal de Campinas recebeu um projeto de lei que propõe a aplicação de multas e sanções istrativas a pessoas que invadirem imóveis públicos ou privados na cidade. A proposta foi protocolada pelo vereador Oto Alejandro (PL) e prevê penalidades severas aos organizadores das ocupações.
De acordo com o texto, a invasão de propriedade será configurada como a entrada ou permanência em imóvel alheio de forma clandestina, astuciosa ou contra a vontade do proprietário, conforme os termos do artigo 150 do Código Penal.
A principal penalidade prevista é a multa de 2.950 UFICs (Unidade Fiscal de Campinas), atualmente equivalente a aproximadamente R$ 13 mil, aplicada aos líderes ou organizadores da ocupação. Em caso de reincidência, o valor será dobrado. Os recursos arrecadados com as multas serão direcionados ao Fundo Municipal de Habitação.
Além da penalização financeira, o projeto estabelece que os infratores ficarão impedidos de assumir cargos ou funções públicas, e de participar de concursos da istração municipal por um período de oito anos.
A proposta também determina que toda ocorrência de invasão deverá ser registrada por boletim de ocorrência e que as despesas para execução da nova legislação correrão por conta do orçamento do município.
Na justificativa, Oto Alejandro afirma que o projeto visa proteger o direito constitucional à propriedade e critica movimentos de ocupação, os quais classifica como ações que promovem o medo e a insegurança:
“Estes pseudomovimentos não buscam atender o déficit habitacional, mas sim pregar o medo na população”, argumenta o parlamentar.
Para entrar em vigor, o projeto ainda precisa ser aprovado em duas votações no Plenário da Câmara e, em seguida, sancionado pelo prefeito.
Nelson Hossri no FPX Cast
O FPX Cast recebe nesta quinta-feira (15), às 20h, o vereador Nelson Hossri, um dos nomes mais combativos da direita conservadora na Câmara Municipal de Campinas. O episódio promete uma conversa direta e sem filtros, abordando desde a atuação de Hossri no legislativo local até os reflexos da polarização entre Lula e Bolsonaro nas eleições municipais.
Com forte presença nas redes sociais e posicionamentos firmes em temas como segurança pública, educação e ideologia, Hossri discutirá o momento político da cidade, as estratégias da direita nas disputas de 2026 e a rivalidade com a esquerda.
Além das pautas locais, o vereador também irá analisar os impactos do cenário nacional no cotidiano da população, e como a divisão política brasileira influencia as políticas públicas e o debate eleitoral.
A entrevista será transmitida ao vivo no canal do YouTube do FPX Cast, com espaço para interação dos espectadores.
- Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada no Portal Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. E-mail para contato com o colunista: [email protected].