Certa feita alguém escreveu: "O sujeito era tão pobre, mas tão pobre que a única coisa que tinha era dinheiro".
A pobreza carrega várias versões, das quais encontramos "pobre de espirito"; de educação; de cultura; de respeito; de dignidade; de amor; mas o que mais chama a atenção é a que está inserida na frase.
Infelizmente tive o desprazer de conhecer pessoas com alto nível financeiro, porém sem o mínimo de educação, respeito e qualquer um dos requisitos aqui mencionados.
A verdade também é verdadeira, pois, com maior frequência, encontramos com pessoas com poucos recursos financeiros, mas com um nível de desenvolvimento humano incomparável àqueles.
Esse tipo de "pobreza" permite que saibam istrar com muita cautela e segurança os poucos recursos que lhes forem disponibilizados. Exemplo clássico e muito recente, são as cotas raciais nas universidades, cujas pessoas que as conquistaram (cotas) apresentam resultados iguais ou superiores àqueles que ingressaram pelo regime universal.
Vale a pena parar para pensar nesses resultados e na origem desses cotistas, os quais, invariavelmente, oriundos de bairros afastados dos centros; criados por "mãe solo" em ambiente desprovido de conforto, alimentação regular, saúde frágil, segurança, família desagregada; enfim, em ambiente propício à destruição do caráter e do desenvolvimento humano.
Independente de tantas e costumeiras dificuldades, esses cotistas alcançaram altos patamares, comprovando alto nível de desenvolvimento e que, apesar da origem, no mais das vezes, receberam educação de qualidade, que, sem a adoção das politicas inclusivas, dificilmente poderiam demonstrar seu potencial e a sociedade perderia excelentes talentos.
Ainda que apresentem alto nível de preparo e formação superior, a dificuldade se repete por ocasião da colocação ou recolocação no mercado de trabalho, mesmo no o via concurso público, vez que não basta preencher os requisitos básicos iniciais, mas que, ao longo do certame, são submetidos a exames orais, médicos, entrevistas pessoais, abrindo-se oportunidade para afastamento de candidatos(as) que não atendam ao olhar do "examinador"! Isso tive o desprazer de conhecer!
A presença desigual, ou melhor, uniforme, nos postos de mando dificulta sobremaneira a entrega da politicas públicas em igualdade de condições, que é o que vimos repetido todos os dias pela imprensa, com ataques raciais e intolerantes contra aqueles "diferentes" (mulher; pessoa com deficiência; LGBT; negros; religiosos), que também tive o desprazer de presenciar, experimentar e, até os dias que correm, não se vê entrega de políticas públicas de vulto direcionadas a esse segmento da sociedade.
Em razão disso, insisto em afirmar: "SÓ QUEM É SABE O QUE É SER" perseguido em supermercados; abordados de forma violenta pela polícia; excluído do mercado de trabalho; comparado a animais; motivo de gracejos e piadas; comparados a fatos, coisas e fenômenos ruins, tais como "lista negra"; "mercado negro"; "câmbio negro"; "denegrir" e por ai vai.
A solução é até simples: basta aproximação, convivência, estudos e, fundamentalmente, respeito. Nesse sentido, como disse Salvador Allende:"Não basta que todos sejam iguais perante a lei. É preciso que a lei seja igual perante todos".
Já escrevi aqui que contamos com leis suficientes à eliminação de grande parte desses conflitos que só não alcançam resultados positivos em razão da desigualdade de tratamento e pela ausência desses personagens nos postos de mando.
Os abusos se repetem e nesta semana uma médica baiana perguntou a uma criança com apenas 3 anos de idade se ela "era filhote de urubu ou de macaco". Como assim, gente? Imaginemos o estrago que isso faz na pessoa!
Nessa esteira, deparamos com indiscutível desrespeito a que incorreram alunas de biomedicina gravando vídeo injuriando outra aluna pelo só fato de contar com 44 anos de idade em autêntico e reprovável ato criminoso que, assim deve ser exemplarmente tratado, com a imposição de pena severa a essas alunas, em "associação criminosa" (pluralidade de agentes).
Aqui vale manter presente a frase do político chileno.
Eginaldo Honorio é advogado, doutor Honoris Causa e conselheiro estadual da OAB/SP ([email protected])