Do ponto de vista romântico, não há frustração maior do que um amor prometido e não entregue. Tipo aquelas juras de amor eterno, logo seguidas de traição. Ou o descompromisso de uma das partes por um acordo preestabelecido não cumprido. O que nos resta após tantos dissabores é um gosto amargo na alma e anos de terapia.
Não vou perder seu tempo falando sobre romance. O que eu quero falar mesmo é sobre política. Vejo, incessantemente e anos a fio, a Câmara de Jundiaí insistir em projetos inconstitucionais, com proposituras que não podem ser feitas pelo Legislativo. Poucos cidadãos sabem que os vereadores não podem apresentar e aprovar projetos que causem ônus à receita municipal. Ou seja, eles legislam sobre poucos temas. Quando insistem em aprovar os chamados projetos inconstitucionais, sofrem ações de inconstitucionalidade promovidas pelos advogados públicos. Normalmente, acatadas pelo Tribunal de Justiça. Ou seja, a lei não terá valia.
Outros projetos são temas de extrema importância municipal, mas que precisam ar por um amplo estudo de impacto orçamentário e estar no PPA (Plano Plurianual). Seria maravilhoso Jundiaí ter um novo hospital, mas quanto custará sua construção, quem vai bancar o custeio mensal? Quem vai pagar a conta? Quantos funcionários serão necessários? Como serão contratados? Ledo engano de quem defende a contratação via cargos por concursos públicos etc, porque o município está com uma folha de pagamentos a servidores exorbitante. Se inchar mais a máquina, não sobrarão recursos para investimentos ou demais projetos. A saúde a, para o bem ou para o mal, em terceirizações e escassa mão de obra para o serviço público. Às vezes, são precárias, às vezes bem-sucedidas.
A mesma coisa acontece com a proposta do fim da jornada 6 x 1 nas contratações terceirizadas pela Prefeitura de Jundiaí. Acho o tema relevante e importantíssimo. Entretanto, não vi até o momento uma planilha de custo de como isso impactará as finanças municipais, que vão mal, obrigado, por conta de n razões. É justo reduzir jornada? Claro que é. Mas como? Qual o cronograma? De onde virá o recurso para pagar esse custo a mais?
Entendo perfeitamente que nenhum trabalhador deveria ser submetido à jornada 6 x 1 e, como estudiosa do ESG, sei que dias folgados são dias validados para a saúde e bem-estar de toda a família. Mas esse pacto deveria ser nacional, de forma escalonada e planejada.
A verdade é única. Lançam-se os fake projetos para as curtidas nas redes sociais. Os cidadãos, incautos e afeitos às informações sem procedência, compram as ideias dos políticos, que não têm lastro. O problema é bem mais embaixo. O Brasil está falido, com uma dívida pública gigantesca e os municípios vêm gastando mais que os estados e União em reajustes e contratação de servidores. Teme-se que nos próximos anos vai ser uma quebradeira geral, afinal, a reforma tributária vai se impor e a queda de arrecadação será iminente, como mostra o JJ de hoje.
Para os eleitores conscientes, resta cobrar da municipalidade atenção e contenção de despesas. Trazer da gestão privada a eficiência, transparência e compliance. Para os inconscientes, vão sobrar ranger de dentes e uma sensação de traição. Políticos, o like de hoje pode ser o dissabor de nunca mais vencer uma eleição.
Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP, istração de serviços pela FMABC e periodismo digital pela TecMonterrey, México. É editora-chefe do Grupo JJ.