Foi-nos dado viver uma era estranha. Geopolítica da exclusão e da xenofobia. Esgotamento dos recursos naturais explorados até à exaustão pela cupidez ambiciosa dos “racionais”. Ira e deboche ocupando as redes antissociais, que foram anunciadas como fator de solidariedade entre os indivíduos. Natural, assim, que não falte serviço para psiquiatras, psicanalistas, psicólogos, sacerdotes, pastores, conselheiros e ouvidos de pacientes irmãos dispostos a escutar o sofrimento alheio.
Há quem sustente que o famigerado mal de Alzheimer seja uma espécie de fuga natural à angústia característica a tantas anomalias mentais. Por isso a preocupação dos estudiosos com a disseminação de práticas singelas, que ajudam a prevenir o declínio cognitivo que acomete grande parte da população.
A ciência comprovou que quase metade dos casos de demência podem ser adiados ou prevenidos com pequenas mudanças na rotina diária ou no comportamento. Dentre as recomendações dos neurologistas e neurocientistas, dez foram selecionadas para servir de roteiro, a quem quiser se ver livre dessa ameaça que recai sobre todos os viventes desta nossa realidade.
Uma recomendação aparentemente insólita é proteger fisicamente a cabeça. Traumas repetidos na cabeça devido a lesões cerebrais traumáticas e concussões podem levar à encefalopatia traumática crônica – ETC, que além de piorar a cognição geral, pode causar demência. Usar protetores auriculares também previne demência. Isso porque a parte do cérebro que processa a audição é próxima à responsável pela memória. Teste auditivo anual, a partir dos 50 anos, é boa prática.
Fazer exames de visão é muito importante. Cientistas acreditam que a perda de visão está ligada ao declínio cognitivo. Cerca de um terço dos adultos com mais de 71 anos que tinham comprometimento visual moderado a grave tinham demência. Agendar exames de vista regulares e usar óculos ou fazer cirurgia corretiva quando necessário, minimizam o risco.
Fazer caminhada e trocar cadeira por banco é outro costume necessário. O exercício beneficia o cérebro ao aumentar o fluxo sanguíneo e transportar oxigênio para ele. Mesmo pequenas doses de exercício diário, caminhar quinhentos metros, podem trazer recompensas. Também reduzir o tempo que se a sentado. Quando se troca uma poltrona confortável por um banco, a tendência é levantar-se logo, pois a sensação de comodidade já não é a mesma.
Gerenciar o colesterol é bom. Aquele de baixa densidade, chamado “ruim”, vem do consumo de carnes, laticínios e bebidas açucaradas. Ele endurece as artérias, restringe o fluxo sanguíneo para o cérebro, aumenta o risco de derrame. Comer legumes, grãos, frutas e vegetais ajuda a conter o colesterol e a manter o peso saudável.
Usar fio dental todos os dias é a regra. A higiene bucal previne infecções orais que tendem a se espalhar para a face ou causar problemas de drenagem do cérebro. Essencial é ter uma vida social ativa para combater os efeitos negativos da solidão. Clubes do livro, grupos de jardinagem, jantar mensal com amigos ou com a família, tudo isso faz a diferença. Outro costume negligenciado depois da COVID é saudável: usar máscara em dias de poluição ou fumaça. Cuidar do pescoço, pois ele fornece sangue para o cérebro e dormir bem. Isto é fundamental: melhorar o tempo que se a a dormir.
Não são regras inflexíveis. Você também pode estabelecer rotinas que o conservem lúcido, de bem com a vida, bem-humorado e tranquilo. Vamos tentar?
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo ([email protected])