
“Jundiaí é uma cidade segura”. Esta afirmação é repetida por quem milita na segurança e também por quem está na área de assistência social. Os dados corroboram: a cidade é 23ª no ranking de mais seguras do Brasil, de acordo com o último anuário, divulgado em 2024 e com informações do IBGE, comparando municípios com mais de 100 mil habitantes e o índice de assassinatos.
Ainda assim, muitos moradores relatam a sensação de insegurança, causada especialmente pelos números de roubos e furtos praticados na cidade. Mais uma vez, os números acompanham: foram três homicídios registrados nos três primeiros meses deste ano, enquanto roubos e furtos trazem números altos, 183 e 1.094, respectivamente. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo.
Trabalhar para evitar estes crimes é o desafio dos poderes públicos e as frentes de ação vão desde a oportunidade de estudos, moradia, alimentação, até geração de renda e emprego, ando também pelas formas de repreender e coibir atitudes criminosas. A reportagem do Jornal de Jundiaí reuniu opiniões de diversos atores políticos e sociais sobre segurança e cidadania.
Para o vereador Leandro Basson, que é policial civil, o problema principal da violência em Jundiaí são realmente os furtos e roubos e ele classifica que são praticados principalmente por dependentes químicos. “É para alimentar o vício, furtam e roubam para consumir entorpecentes. Lógico que é uma consequência do tráfico de drogas”, diz, considerando que as pessoas que cometem estes pequenos crimes muitas vezes são sim presas mas logo voltam para as ruas e retornam a vida criminosa.
Ele considera ainda que é preciso ir além de só prender estas pessoas, é preciso combater o tráfico e tratar os dependentes. “Sou a favor da internação compulsória, para tratar e reintegrá-los à sociedade. Também é preciso fazer um combate aos ferros-velhos que compram a maioria dos produtos, que são os cobres, tudo que eles conseguem furtar e roubar”, avalia.
Em relação à segurança em Jundiaí, Basson considera que o combate aos furtos e roubos é o principal desafio. “A polícia, em geral, e a Guarda Municipal de Jundiaí, estão muito bem preparadas para os outros crimes. Os índices mostram”. Como vereador, ele reforça que está fazendo projetos de lei com foco nas fiscalizações aos locais que compram produtos de crimes, também no fortalecimento da Guarda Municipal e outros agentes de segurança no combate a todos os crimes, inclusive ao tráfico de drogas, trazendo ferramentas tecnológicas para que a ação preventiva tenha maior eficácia.
“Também queremos fiscalizar os recursos que são destinados para a segurança pública e principalmente apoiar senadores e deputados para que eles façam uma reforma na legislação e nos processos penais, para que realmente o dependente químico que comete furtos e roubos seja realmente tratado e não volte imediatamente para as ruas após a prisão e audiência de custódia”, finaliza.
Ações intersetoriais
Já a gestora da Unidade de Assistência e Desenvolvido Social, Luciane Mosca, acredita que a política intersetorial é a melhor forma de trabalhar. “Atuamos preventivamente, com crianças e jovens. Mas com os drogaditos e que estão nas ruas praticando furtos, as ações levam mais tempo para terem resultados. Precisamos visar a redução de danos e também reorganização da vida destas pessoas, reinserindo na comunidade e tornando-as produtivas”, explica.
Com mais de 20 anos trabalhando na assistência social, Luciane afirma que a sensação de insegurança em Jundiaí é causada porque a área social não teve a devida atenção nos últimos anos. “Planejou-se uma cidade para as crianças e para as pessoas de classe média. Mas não é boa para todos. Jundiaí tentou esconder a pobreza e a violência. Não deu certo”, opina. Ela acredita que os furtos e roubos praticados pelas pessoas em situação de rua e que são dependentes de álcool e drogas podem ser resolvidos com tratamento adequado para a dependência e novas oportunidades.
“Não é simples. Estas pessoas vão ar por crises de abstinência, vai ser mais difícil se manterem em empregos formais. Por isso, estamos pensando em estratégias diferentes, que compreendam esta realidade”, diz. Ela destaca ainda que estas pessoas são levadas para a criminalidade devido a estrutura social que perdura: “Falta o básico na vida delas. Acabam vendo o tráfico ou os furtos como solução. Sei que não vamos fazer tudo, mas vamos reduzir muito os danos e fortalecer o trabalho preventivo”.
Apesar dos grandes desafios, ela ainda fala com esperança sobre o trabalho para combater a desigualdade social e seu impacto efetivo em diversas áreas, como a segurança e saúde pública. “Não podemos deixar de acreditar no ser humano”.