OPINIÃO

A saúde mental das mães atípicas: um cuidado necessário


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Ser mãe é uma experiência profunda, repleta de desafios e alegrias. No entanto, quando falamos das chamadas "mães atípicas" — aquelas que cuidam de filhos com deficiências, transtornos do neurodesenvolvimento como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), ou outras condições que exigem atenção constante — esse papel materno adquire contornos ainda mais complexos e exigentes. Cuidar de uma criança com necessidades específicas implica uma sobrecarga emocional, física e mental que, muitas vezes, não é devidamente reconhecida ou acolhida pela sociedade. Por isso, falar sobre a saúde mental dessas mães é uma questão urgente e necessária.

Mães atípicas vivem uma rotina marcada por incertezas, terapias, consultas, adaptações e lutas diárias por direitos básicos para seus filhos. Essa trajetória, ainda que permeada de amor incondicional, pode levar a altos níveis de estresse crônico, ansiedade, depressão e esgotamento emocional. A constante vigilância, a dificuldade de encontrar apoio adequado e o medo do futuro criam um cenário de vulnerabilidade psíquica. Muitas dessas mulheres abrem mão da carreira, do autocuidado, de momentos de lazer, e até de vínculos sociais, tornando-se praticamente cuidadoras em tempo integral.

É comum que essas mães desenvolvam sentimentos de culpa, impotência e isolamento. A sociedade, muitas vezes, reforça esses sentimentos ao romantizar a maternidade, exigindo resiliência inabalável e dedicação absoluta, sem oferecer rede de apoio, compreensão ou e. No entanto, nenhuma mãe — atípica ou não — deveria enfrentar esses desafios sozinha. Cuidar da saúde mental dessas mulheres não é apenas um gesto de empatia, mas uma ação de justiça social e de responsabilidade coletiva.

A saúde mental das mães atípicas impacta diretamente o bem-estar de seus filhos. Uma mãe que está emocionalmente exausta tem mais dificuldade em mediar conflitos, acompanhar os processos terapêuticos e exercer o papel de facilitadora do desenvolvimento da criança. Por outro lado, quando a mãe tem espaço para se cuidar, expressar suas angústias, ser ouvida e apoiada, ela se torna mais fortalecida para lidar com os desafios do cotidiano, promovendo um ambiente mais acolhedor e saudável para toda a família.

Nesse sentido, é fundamental a criação de políticas públicas que ofereçam e psicológico, grupos terapêuticos, o facilitado à rede de saúde mental, bem como ações de conscientização sobre a importância de acolher e cuidar das mães atípicas. É preciso romper o silêncio e o estigma que ainda cercam o sofrimento psíquico materno, promovendo espaços onde essas mulheres possam ser mais do que cuidadoras: possam ser vistas em sua totalidade, com suas dores, desejos, limites e necessidades.

Cuidar da saúde mental das mães atípicas é, portanto, um o essencial para a construção de uma sociedade mais humana, inclusiva e empática. Quando cuidamos de quem cuida, todo o sistema se fortalece.

Micéia Lima Izidoro é professora ([email protected])

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