PERDA GESTACIONAL

História revela o luto silencioso de muitas mães

Por Redação |
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Arquivo pessoal
Fernanda Marques ao lado do filho Enzo: força da maternidade em meio ao luto gestacional
Fernanda Marques ao lado do filho Enzo: força da maternidade em meio ao luto gestacional

Tati Machado, apresentadora da TV Globo, perdeu o bebê que esperava na reta final da gestação, com 33 semanas. A notícia, que comoveu o país, reflete uma realidade dolorosa também vivida por muitas mulheres da nossa região: o luto gestacional. Uma dor silenciosa.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostram que mais de 5 milhões de crianças morrem todos os anos no mundo quase metade delas no primeiro mês de vida. No Brasil, apenas em 2024, foram registrados 24.237 óbitos fetais e 20.007 mortes de bebês com até 28 dias de vida, diante de 2.380.450 nascimentos. A mortalidade perinatal é uma questão crítica, reconhecida pela ONU como prioridade global por meio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

As perdas gestacionais e neonatais que incluem óbitos fetais até a 20ª semana, perdas tardias após essa fase e mortes de recém-nascidos até o 28º dia de vida são mais comuns do que se imagina. A psicóloga Fernanda Marques, moradora da região, viveu essa dor em 2024. Ela perdeu sua filha, Giovana, aos seis meses de gestação. “Dez dias depois, em um exame de rotina, a realidade me atravessou: o coraçãozinho da minha filha já não batia mais. Ela se foi e com ela, uma parte de mim também partiu”, conta.

Fernanda descobriu que a perda foi causada por um vírus chamado Parvovírus B19 (é um vírus que embora geralmente leve em adultos, pode causar complicações graves na gestação, como anemia fetal e até a morte do bebê, mesmo sem sintomas na mãe), que não apresentou sintomas nela, mas foi fatal para a bebê. “Era uma gestação tranquila, sem sinais de alerta. Tínhamos montado o quarto, lavado as roupinhas, tudo estava pronto para a chegada dela”, conta.

Fernanda Marques durante a gestação de Giovana e a pequena lembrança que guarda da filha 

O parto foi induzido, e três dias depois, no dia 7 de agosto, Giovana nasceu sem vida. “Ali ficou uma parte de mim para sempre. Voltamos para casa com os braços vazios e uma dor impossível de descrever”, diz Fernanda, que já era mãe do pequeno Enzo.

A médica Karayna Gil Fernandes, professora da Faculdade de Medicina de Jundiaí e responsável pelo ambulatório de perdas gestacionais, explica que muitas dessas perdas são imprevisíveis. “Infecções, alterações genéticas, pré-eclâmpsia, trombofilia, entre outras condições, podem levar à perda do bebê mesmo em gestações que pareciam normais”, destaca.

Ela ressalta a importância do acompanhamento médico e da escuta ativa durante o pré-natal. “Não temos como evitar todas as perdas, mas conseguimos minimizar riscos com exames adequados, controle de doenças e atenção às queixas da gestante. Mudanças nos movimentos do bebê, por exemplo, podem ser sinais de alerta e devem ser avaliadas imediatamente”, orienta a médica.

Médica Karayna Gil Fernandes

Apesar da dor, Fernanda e sua família encontraram forças para seguir. No mesmo mês, um ano depois, nasce Lorena, sua terceira filha. “Seremos sempre pais de três: Enzo, Giovana e Lorena”, afirma.

Em abril, o Senado aprovou um projeto de lei que assegura direitos a mulheres que enfrentam perdas gestacionais e neonatais. O texto, que reúne propostas da deputada Geovânia de Sá (PSDB-SC) e do atual ministro da Saúde, Alexandre Padilha, foi relatado pela senadora Augusta Brito (PT-CE), com apoio de instituições que atuam na causa.

O projeto segue agora para sanção presidencial, representando um avanço para transformar o silêncio em acolhimento e dar voz às milhares de mães que vivem o luto invisível da perda gestacional.

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