
Danielle S. Marcondes trabalha fora, é mãe da pequena Anna Clara, de 3 anos e 11 meses, e conhece bem o desafio de equilibrar o uso das telas no dia a dia da filha. "Ela assiste no smartphone e tablet, e joguinhos, só os educativos", conta. Durante a semana, Anna a cerca de duas horas por dia usando os aparelhos, enquanto a mãe aproveita o tempo para organizar a casa, preparar a janta e separar a mochila para o dia seguinte. "Me consome, mas é o tempo que tenho", ite.
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Anna Clara, 3 anos
Nos fins de semana, porém, a rotina muda: "Na roça, ela brinca com terra, bichinhos e as amigas vizinhas", relata Danielle, que, com o esposo, oferece à filha o contato constante com atividades ao ar livre e interações sociais. O casal também procura estabelecer limites claros: evita que a filha assista a conteúdos que considera inadequados e mantém a regra de não usar telas durante as refeições, após episódios de irritação e choro.
Foto: Danielle S. Marcondes para a SAMPI
"Nem tudo é mil maravilhas, mas buscamos o equilíbrio". Por sorte, os avós paternos e maternos de Anna respeitam a postura dos pais quando recebem a pequena nas férias ou finais de semana, e mantêm o controle às telas.
Para muitas crianças, o cenário é diferente.
"Chupeta digital" e o impacto na saúde
O uso precoce e excessivo de celulares e tablets prejudica seriamente o desenvolvimento emocional e neurológico de bebês e crianças. O alerta é de Rogéria Sprone, especialista em Ensino e Educação e diretora pedagógica do Colégio Joseense, em São José dos Campos. Em entrevista à SAMPI, ela afirma que o hábito conhecido como “chupeta digital” interfere diretamente no comportamento escolar e social dos pequenos.
“As telas inibem experiências sensoriais reais, essenciais para o amadurecimento emocional e cognitivo”, explica Sprone. Como consequência, crianças que am muito tempo expostas a dispositivos eletrônicos tendem a apresentar “menos atenção, agitação, baixa tolerância à frustração e dificuldade em interações sociais e concentração”, destaca.
Apesar do cenário preocupante, a diretora pondera que o equilíbrio é possível: “Desde que a prioridade seja sempre a interação humana. A tela não pode substituir o olhar, a conversa, o brincar e os momentos juntos.”
Rogéria Sprone, especialista em Ensino e Educação
Em vez de smartphone, brincadeira
Como alternativa à distração eletrônica, a especialista recomenda atividades que promovam o crescimento das conexões neurais, como o ato de brincar, que ela define como “fundamental para a formação da criança”. Brincadeiras de faz de conta, contação de histórias e jogos criativos ajudam a criança a explorar o mundo, desenvolver habilidades motoras, cognitivas e afetivas, além de estimular a empatia e a colaboração. “Enquanto se entregam ao mundo imaginário, as crianças aprendem a resolver problemas, lidar com o inesperado e se comunicar melhor”, afirma.
Mães e pais com rotinas exaustivas
Questionada sobre a realidade de mães e pais sobrecarregados, que trabalham e muitas vezes não encontram alternativas, Sprone é razoável: “É compreensível recorrer à tela em momentos pontuais, mas a repetição deve ser evitada. Busque um equilíbrio dentro da sua realidade familiar.”
Ela destaca a importância da conscientização: “O estudo e a orientação ajudam demais. Precisamos falar ainda mais sobre isso, oferecer alternativas viáveis para que as famílias possam fazer escolhas mais saudáveis e conscientes.”
Sobre o uso moderado de telas, a especialista orienta que “o diálogo desempenha um papel crucial. Conversar com a criança e estabelecer uma rotina é fundamental”. Para Rogéria, conteúdos de qualidade e sob supervisão podem ser usados “pontualmente”, mas nunca devem “substituir a experiência real”.
Atenção aos sinais
Segundo Rogéria, sinais de que a criança tem sido exposta demais às telas incluem “apatia, irritabilidade, dificuldade de concentração e pouco interesse por brincadeiras físicas”. Nestes casos, recomenda-se resgatar o contato com a natureza, brincadeiras ao ar livre e atividades em família e com amigos.
Comentários
2 Comentários
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Maria Aparecida Palú 4 dias atrásSou Psicóloga Escolar e gostei muito do artigo. Vou divulga- lo e expor uma roda de conversa com os pais referente ao artigo. Gratidão.
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Nicole Melhado 5 dias atrásEducar é um desafio. Equilíbrio é tudo !