'Ele assassinou três pessoas a sangue frio', diz ex de Cupertino

Vanessa Tibcherani de Camargo, ex-mulher de Paulo Cupertino Matias, participou nesta quinta-feira (29) do julgamento sobre a morte do ator Rafael Miguel e dos pais do artista. Ela abriu seu depoimento afirmando que Cupertino, acusado do crime, "assassinou as três pessoas a sangue frio".
O caso aconteceu em junho de 2019, no bairro de Pedreira, na zona sul de São Paulo. Rafael, que atuou na novela "Chiquititas" e em comerciais, namorava a filha de Cupertino à época. O jovem tinha 22 anos. Ao ser morto ele estava na companhia do pai, João Alcisio Miguel, 52, e da mãe, Miriam Selma Miguel, 50.
Segundo Vanessa, toda vez que Cupertino era contrariado, ele a agredia. Em uma das vezes, disse, ele chegou a cortar sua roupa com um facão e bateu nela.
As agressões constantes ao longo do relacionamento resultaram em quatro costelas quebradas de um lado e três do outro, afirmou a ex-esposa. O nariz também já teria sido quebrado quatro vezes.
O promotor do caso, Thiago Alcocer Marin, questionou Vanessa sobre um boletim de ocorrência aberto em 2004 contra Cupertino, mas que não teve andamento. A mulher disse não ter dado sequência à queixa após ter recebido ameaças.
Vanessa relatou ter tentando por diversas vezes separar dele, mas disse que as ameaças à família dela a faziam recuar.
"Ele é misógino", afirmou, ao se referir a falta de carinho de Cupertino com a própria filha. Assim como a filha do casal, Vanessa declarou que Cupertino tinha uma arma.
De acordo com Vanessa, Cupertino instalou câmeras no portão da entrada da casa. O aparelho que registrava as imagens ficaria dentro do escritório dele, ao lado da residência na qual ela morava com a filha do casal. A ação seria uma forma de vigiá-las, afirmou.
Segundo o promotor, três dias após o crime, durante uma ação de busca e apreensão, o aparelho que gravava as imagens não foi encontrado, apenas as câmeras.
Vanessa chamou Rafael de "menino do bem, de família". Segundo ela, no dia do crime, Cupertino assim que chegou em casa perguntou sobre a filha do casal e ficou nervoso ao não encontrá-la.
Cupertino, então, teria seguido até uma padaria e depois retornado para casa. Vanessa disse ter ouvido o ex-marido falar de forma exaltada. Pouco tempo depois, ouviu os disparos.
"O meu filho sofre. Ele tem horror a ele [o pai]", respondeu Vanessa após uma pergunta do promotor.
Durante o julgamento, uma das advogadas de Cupertino pediu ao juiz que fosse oferecido um cafezinho aos jurados, já que um deles estava cochilando durante o depoimento de Vanessa.
FILHA RELATA ÚLTIMOS MOMENTOS ANTES DO CRIME
A primeira a prestar depoimento foi Isabela Tibcherani Matias, filha de Cupertino e namorada de Rafael, que pediu ao juiz para que o pai não estivesse presente na sala durante sua fala.
Ela disse que o relacionamento com o jovem era difícil pelas proibições impostas pelo pai e relatou diversos episódios em que ela e a mãe foram agredidas por ele.
Ela contou que no dia do crime encontrou-se com Rafael em uma praça próxima de casa para conversarem. Depois, seguiu com os pais de Rafael até a casa deles. Na sequência, ela entrou novamente no carro dos pais do jovem e todos seguiram todos para a sua residência.
A intenção, segundo ela, era deixá-la em casa em segurança e conversar com a sua mãe, já que os pais de Rafael tinham conhecimento das proibições que ela vivia.
A jovem contou ter se assustado ao ver seu pai abrir o portão da casa, pois ele não morava mais lá ?já tinha outra família. Ele então a puxou pelo braço e mandou que ela entrasse na residência.
Rafael e a mãe, que estavam mais próximos, tentaram conversar com Cupertino. "Conversar nada", teria dito o réu, segundo a filha. "Após essa fala, eu ouvi os disparos. Foi uma sequência muito longa", acrescentou.
Isabela disse ter saído de casa e visto os corpos e Rafael e dos pais dele na rua.
Ela afirmou que o relacionamento entre o pai e a mãe era abusivo, com agressões, e disse que ficou sabendo que o pai teria matado um homem que tentou se relacionar com a mãe, mas não disse quando isso teria acontecido.
A filha ainda relatou momentos em que teria sido agredida pelo pai e o classificou como machista e misógino. Ela também disse que tom a medicação até hoje e seu irmão, que tinha 13 anos na época do crime, é deprimido.
JULGAMENTO ANTERIOR FOI ANULADO
Cupertino chegou a se sentar no banco dos réus em outubro ado. Poucas horas depois de o júri ser iniciado, porém, ele resolveu destituir a sua defesa.
O acusado dos assassinatos alegou quebra de confiança, o que impediu o prosseguimento do julgamento e resultou na anulação dos trabalhos e dos depoimentos já realizados.
O júri, que começou nesta quinta, é formado por quatro homens e três mulheres.
Das nove testemunhas que seriam ouvidas, uma não compareceu ao Fórum da Barra Funda, na zona oeste de São Paulo. Como ela integrava a defesa de Cupertino, a Justiça desistiu de ouvi-la.
A previsão é que os depoimentos e debates entre acusação e defesa se estendam por ao menos nove horas.