
"O tsunami protecionista do presidente Donald Trump, marcado pelo abrupto aumento das tarifas de importação, está redesenhando o tabuleiro da economia mundial e disparando sinais de alertas no Brasil", avalia Rafael Cervone, presidente do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) e primeiro vice da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Ele observa que a elevação da taxa média dos Estados Unidos, de 2,5% em 2024 para até 30% este ano, sinaliza um retorno a patamares não vistos desde a Grande Depressão.
"As novas alíquotas, que, na visão de Trump, visam proteger a indústria local, apresentam um efeito colateral previsível, podendo ser um tiro no pé: inflação mais alta e menor crescimento do próprio país", enfatiza Cervone, chamando atenção para dados tabulados pela Fiesp. "A combinação entre tarifas elevadas e a escalada das incertezas já impacta os principais indicadores da sua economia", ressalta.
A previsão de crescimento do PIB norte-americano para 2025 deve cair para a faixa entre 0,8% e 1,4% no pior cenário, com o núcleo da inflação podendo bater nos 4%.
O índice de confiança do consumidor despencou e o dólar, contrariando expectativas de valorização com juros altos, vem perdendo força diante de outras moedas.
O risco de recessão, que parecia controlado no início do ano, agora é tratado como possibilidade muito concreta por respeitados analistas, inclusive de grandes instituições financeiras e de investimentos.
No Brasil, os desdobramentos desse cenário são ambíguos. Por um lado, a queda dos juros de longo prazo nos Estados Unidos tende a aliviar a taxa interna, reduzindo o custo da dívida pública. Lembrando que as tarifas de Trump para os produtos brasileiros são de 10%, sendo que o aço e o alumínio seguirão com alíquota de 25%, anteriormente anunciada, Cervone entende ser necessário analisar com serenidade e bom senso os efeitos nas exportações, mas também as oportunidades que se abrem. "Numerosos países foram taxados muito acima do nosso, o que, numa nova configuração do mercado externo mundial, poderá nos proporcionar algumas vantagens competitivas", salienta.
No entanto, é preciso um esforço diplomático no sentido de buscar um equilíbrio nas relações comerciais com os Estados Unidos. "Historicamente, temos registrado déficits em produtos manufaturados no fluxo bilateral, o que reforça o fato de que o Brasil não representa risco e, sim, vantagens para os norte-americanos. Isso mostra a importância de uma estratégia bem-estruturada para que ambas as economias cresçam de maneira sustentável, sinérgica e em longo prazo", pondera o presidente do Ciesp.