OPINIÃO

Arquiteto Jurandyr Bueno Filho


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As novas gerações não devem nem ter ouvido falar nesse nome. Mas as escolas de arquitetura, história e jornalismo de Bauru sim! O nome da rua no Parque União é do pai dele. Mas ados 16 anos de sua morte, um dos maiores arquitetos da cidade de Bauru, anda meio esquecido entre outras personalidades.

País, estado e cidade sem memória. Esquecem até as atrocidades cometidas pela Ditadura Militar. E parte da sociedade pede golpe, intervenção militar como se fosse um regime melhor que a nossa resiliente Democracia.

Formado pela FAU-USP ainda na FAU Maranhão, ele foi contemporâneo de Francisco Buarque de Hollanda, o Chico Buarque. Chico abandonou o curso e se dedicou à música. Jurandyr se formou e voltou para sua cidade natal e aqui fez carreira.

Terminal Rodoviário de Bauru, Parque Vitória Régia, av. Nações Unidas, Campus da Usc/Unisagrado, Santuário do Sagrado Coração, Rodoserv Star - rodov. Castelo Branco, Hospital Unimed Bauru, Hospital do Centrinho FOB-USP entre outros inúmeros projetos residenciais de muito prestígio e valorização. Jurandyr foi secretário de Planejamento daí seu nome e da equipe de arquitetos, projetistas e desenhistas da prefeitura de Bauru estarem em obras públicas.

Meu primeiro contato com o arquiteto Jurandyr foi na Unesp. Era um mito. Sua fama corria longe. Lecionou duas matérias técnicas para nós. Ensinou como desenhar cortes, aterros, taludes e noutra disciplina o desenho técnico, representação gráfica, paginação de projeto.

Suas pranchas eram sempre maravilhosas, coloridas, rigorosamente bem desenhadas, verdadeiras obras de arte. Detalhe, sempre chegava atrasado, com seu motorista e nós estávamos quase indo embora. Mas ele nos cativava. Numa aula um aluno perguntou: como fazer uma pranta arquitetônica bonita?

Ele deu um berro: Planta! se você falar pranta para o cliente ele desaparece da sua vida! Era só risada.

A melhor parte da aula era ver suas obras em construção e algumas habitadas. Fomos visitar a casa da Clélia Molina e a casa de um emergente empresário do ramo dos plásticos. Muita madeira nobre (carpintaria do Dema e família), granitos diversos, pastilhas Vidrotil, Murvi, cerâmicas Santo Antonio, Gail, esquadrias sob medida, domus. Aulas práticas melhores que muito livro e blá-blá-blá.

Sempre fumando, sapatilhas sem meia, camisas de linho, lapiseiras diversas, item obrigatório do arquiteto, falava com sua voz grossa e seus cabelos ora acaju ora grisalhos.

Assim era o arquiteto que contava histórias de seus convidados, de sua coleção de disc laser onde amava ver Madonna descer uma escada estreita sem tropeçar em pleno palco para milhares de pessoas.

Uma vida social e profissional agitada até que se arriscou filiação partidária e foi eleito vereador para a Câmara Legislativa de Bauru. Veio a infartar em 6 de fevereiro de 2009 (16 anos já se aram) deixando um legado de amor pela cidade sem limites, amor às artes, às viagens, ao bom gosto, aos amigos, à vida que lhe fora generosa.

Seu espólio encontrava-se abandonado na casa da rua Antonio Garcia 10-15 onde residiu até seus últimos dias. Após inúmeras tentativas com o poder público, instituições de classe, parece que a Unisagrado/USC/Fafil se interessou pela guarda, preservação, divulgação do acervo pessoal e profissional desse importante bauruense. Uma alma do purgatório foi salva! Saravá!

Parafraseando o grande arquiteto Oscar Niemeyer: "Meu trabalho não tem importância, nem a arquitetura tem importância pra mim. Para mim o importante é a vida, a gente se abraçar, conhecer as pessoas, haver solidariedade, pensar num mundo melhor, o resto é conversa fiada."

Gratidão, professor Jurandyr!

Aquele abraço.

Boa sorte Bauru!

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