OPINIÃO

A caixa de ferramentas da vida

Por Hilário Nunes da Silva | O autor é colaborador de Opinião
| Tempo de leitura: 1 min

No meu tempo, todo homem tinha sua caixa de ferramentas. A minha ainda está aqui — envelhecida, mas firme, como eu. Tem uma caixa só para os parafusos, outra para as buchas, uma para as chaves e alicates, e até uma para guardar aquelas peças que não servem para nada… até que um dia, inesperadamente, servem.

Essa organização, aprendi com meu pai.

Mas não era só sobre ferramentas. Era sobre caráter. Cada parafuso no seu lugar, cada escolha pensada, cada ação medida. A caixa era uma extensão de quem éramos: prontos para consertar, firmar, construir. Prontos para lutar.

Hoje olho para a juventude e percebo que muitos nem sequer têm uma caixa — nem de ferramentas, nem de valores bem encaixados. Há quem diga que é por falta de interesse. Eu penso que é por falta de exemplos, de tempo junto, de conversas como as que tive com meu velho, à luz fraca da garagem, entre uma martelada e outra. Não é que a juventude esteja perdida. É que muitos estão tentando apertar os parafusos soltos da vida com as mãos nuas, sem ferramentas, sem preparo. E quando a adversidade bate, falta mais que força: falta jeito, falta visão, falta a calma que vem com a experiência.

Talvez o que precisemos fazer — nós, que ainda temos nossas caixas — seja abrir nossas tampas, mostrar o conteúdo, ensinar o uso.

Porque mais do que criticar, é preciso oferecer. Ensinar que cada obstáculo é como uma peça solta: exige a ferramenta certa, paciência e intenção firme.

E que, no fundo, a maior herança que podemos deixar… é essa caixa. Cheia de ferramentas, mas também de memória, valor e dignidade.

O autor é colaborador de Opinião.

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