11 DE AGOSTO DE 1995

Bauru: vídeo mostra evento que antecipou vida cultural no teatro

Por Guilherme Matos | da Redação
| Tempo de leitura: 2 min
Arquivo pessoal/Glorinha Reis
Imagens cedidas ao JC mostram o espaço que se tornaria um dos grandes patrimônios culturais bauruenses ainda germinando
Imagens cedidas ao JC mostram o espaço que se tornaria um dos grandes patrimônios culturais bauruenses ainda germinando

Ainda no início das obras, erguidas sobre as ruínas de um antigo Mercado Municipal de Bauru, o Teatro “Celina Lourdes Alves Neves” recebeu suas primeiras performances artísticas. Era dia 11 de agosto de 1995, com o prédio ainda ‘no esqueleto’, quando um vídeo registrou o lançamento do livro “Um violino para os gatos” do escritor Lucius de Mello, também autor de “Eny e o grande bordel brasileiro”.

As imagens cedidas ao JC mostram o espaço que se tornaria um dos grandes patrimônios culturais bauruenses ainda germinando e que foi reinaugurado na noite desta quarta-feira (7).

A organizadora do evento literário, Glorinha Reis, então proprietária do Empório Cultura Café Brasil, decidiu ressignificar a construção. O local foi preparado com tapetes vermelhos e mesas para acolher com segurança os convidados em um ambiente que misturava o rústico com a vanguarda.

Os carrinhos usados para transportar ferramentas e detritos se tornaram prateleiras de livros. Um banner com a capa da obra lançada foi pendurado em um andaime logo na entrada. No topo, um jovem violinista performava para os presentes. As paredes de concreto receberam pinturas a Lairana, uma renomada artista plástica da cidade.

O chão foi palco para o Grupo Ato, que interpretou para os presentes contos de “Um violino para os gatos”, o primeiro título publicado por Lucius de Mello, que anos depois ganharia notoriedade com a biografia de Eny Cezarino. O exemplar lançado em 1995 reúne narrativas curtas que se propõem a explorar questões centrais da experiência e alma humana, conforme ele explicou em entrevista a TV Globo naquela noite.

“A gente foi lá para plantar uma semente para vê-la germinar. Eu estava iluminando as obras mais do que o próprio livro, tanto que foi a construção que roubou a cena. O teatro ainda estava nascendo, e eu também estava me iniciando como escritor. Era como se ambos estivessem sendo construídos ali, ao mesmo tempo”, relembra Lucius em entrevista ao JC.

Para o autor, a fusão entre literatura, música, artes visuais e cênicas conferiu ao evento uma força simbólica especial. “Todas as artes são irmãs. A literatura faz pensar e sentir. E quando ela se une ao teatro, esse poder se multiplica”, diz.
Para Glorinha Reis, havia poesia permeando todo o ambiente. Tanto que o evento mobilizou dezenas de munícipes, incluindo, o então prefeito Tidei de Lima. A própria escolha do local ajudou a compor a atmosfera da noite. "Por décadas, Bauru careceu de um espaço para as artes cênicas. Nós tínhamos uma força cultural enorme, mas não tínhamos palco. Ali ocorreu a primeira ocupação artística do teatro”, relembra.

Mais de duas décadas depois, ela ainda defende que aquela área seja mais que palco para espetáculos. “Ele precisa servir às políticas públicas, às escolas, aos jovens. Deve estar aberto mesmo quando estiver vazio, sendo usado como instrumento de pertencimento”, diz.

Com sua reinauguração na noite desta quarta-feira (7), a Prefeitura de Bauru pretende trazer as crianças de volta ao local, por exemplo.

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