COLUNISTA

A essência de uma universidade

Por Alberto Consolaro |
| Tempo de leitura: 3 min
Professor Titular da USP e Colunista de Ciências do JC
Reprodução
Universidade de Bologna, a primeira universidade fundada em 1088.
Universidade de Bologna, a primeira universidade fundada em 1088.

A essência de João é ser humano por sorrir, falar e pensar. Essência é o mais básico, mais central e mais importante característica de um ser ou algo. É o que lhe confere identidade, um caráter distinto. Essência é ideia central, argumento principal, é razão de ser.

Na filosofia, a essência é algo primariamente necessário e o princípio de inteligibilidade, é o que há de mais fundamental. Poucas universidades, infelizmente, sabem de sua essência que a deveria sustentar. Quando se refere à essência da universidade, comumente se confunde com finalidades e objetivos, como ensino, pesquisa e prestação de serviços à comunidade.

TRIPÉ

Uma situação muito triste é ouvir discursos de diretores, pró-reitores e reitores nos quais afirmam que a universidade se baseia no tripé ensino, pesquisa e prestação de serviços. Triste, porque denota ignorância sobre a essência da própria instituição que dirigem.

Pelo conceito de essência, veremos que o ensino não é uma atividade privativa da universidade, pois ocorre nos colégios, escolas profissionalizantes, centros de estudo e outras organizações escolares, sem com isso assumirem um caráter universitário.

A pesquisa, por sua vez, também pode ser realizada em vários locais destacando os institutos e centros de pesquisa, indústrias e outras instituições com produção de alto nível e nem por isto são consideradas universidades.

O caráter assistencial de serviços de saúde, jurídico, espiritual e istrativo em várias entidades sociais como clubes de serviço, serviços sociais e igrejas, não dão a estas organizações um caráter universitário.

ESSÊNCIA

O que caracteriza exclusivamente a universidade na sociedade, determinando sua essência, é a missão de formar cidadãos com capacidade analítica crítica, seres pensantes com competência para decidir com sabedoria e julgar com precisão, se for necessário. Negar-se a analisar e criticar, é negar a essência da universidade!

Educar para a universidade, significa ensinar a pensar sozinho. Os indivíduos formados devem ser capazes de pensar e criticar com independência e saber transmitir à sociedade este espírito. Esta é a essência da universidade.

Nela, deve-se discutir os problemas que incomodam e inquietam a sociedade, quer sejam científicos, políticos, sociais e culturais de toda ordem. Falar de universidade, necessariamente é pensar em polêmica. A universidade sem controvérsias e vários pontos de vista, tende a ser totalitária ou morta, sem vida intelectual.

O produto da universidade não deve ser a quantidade de trabalhos publicados, o número de pacientes atendidos e nem mesmo a quantidade de graduandos. Mas, sim a qualidade de profissionais que formam como cidadãos pensantes, críticos, analíticos e participativos na sociedade.

Entre as pragas ou pestes que podem estragar uma universidade, está a soberba intelectual, produto da petulante superioridade, geradora dos donos da verdade. A universidade que não for polemista está traindo sua essência, está a caminho do conformismo. Na universidade, vive-se a liberdade de pensamento nas discussões.

REFLEXÃO FINAL

O essência da universidade está na produção de valores humanos e na formação de consciência para a construção da civilização. Se destaca sempre pelo caráter universal, sentido comunitário e imunidade daqueles que a compõem. A universidade é a principal responsável pela geração e organização do conhecimento e preservação da cultura. Mas, nem sempre, a universidade está inserida em um contexto social e político que a veja com simpatia pela sua atitude contestadora e dever de dizer não às injustiças.

Comentários

Comentários