As gentes que são cheias de si, não se importam com aqueles que conhecem da lida diária, apenas a labuta constante, o esforço sem descanso ou recompensa.
São pessoas que não se parecem com seres humanos. Consideram-se donos da verdade, a defendem com afinco incansável pelo simples prazer de vencer uma queda de braço e provarem para si mesmos o quanto são superiores.
Muitas delas gostam de fingir que são religiosas e até exercitam uma suposta caridade fazendo doações de cestas básicas. Sem desmerecer o valor das contribuições que serão sempre bem vindas, mas se mostram incapazes de sentar e ouvir o que o outro realmente precisa. Sem refletir sobre o papel do Estado e da Sociedade Civil acerca dos deveres legais e dos princípios éticos balizadores que sustentam o convívio pacífico.
A ausência de empatia e solidariedade é evidente. Não aram por situações degradantes, humilhantes ou constrangedoras que algumas pessoas atravessaram, e ignoram as feridas profundas de uma vida de sobrevivência e carente de bem estar, tranquilidade e alegria.
A maioria apenas gostaria de viver com sua dignidade. Alguns conseguem manter a força da alma viva, à custa de uma fé genuína que funciona como impulso e persistência para não desistir de si e de seus sonhos. Estes representam aquela garra do povo brasileiro, uma destemida insistência em enxergar as coisas com uma boa dose de humor e esperança.
Meus aplausos vão para elas, que todos os dias sacodem a poeira dos pés e a esmagadora responsabilidade nos ombros, para fazer a vida valer a pena, de um modo simples e verdadeiro, sem precisar desfilar aparências, mas honrando a oportunidade de estar vivo, embora quase nunca dando a volta por cima.
Entretanto, são a verdadeira identidade de uma nação sobrepujada por uma minoria abastada. São aquilo que a bandeira nacional simboliza, todas as cores, nuances e significados. Exibem as virtudes do bom combate, não fogem da luta, pisam da terra dourada, adorada com ginga, poesia e samba nos pés.
São seres humanos feitos de luz...são os que ardem de dor e alegria autênticas, e reinam soberanos não sobre os traços da história que os ignora ou despreza, mas por sobre a vida que pulsa discreta em seus corações, a despeito de toda a covardia daqueles que os exploram.