OPINIÃO

Patrimônio tombado é compromisso com o presente


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A conservação do patrimônio histórico em Jundiaí — e no Brasil como um todo — sofre de um mal crônico: o descaso institucionalizado. Não basta proteger os bens em um inventário para garantir sua preservação. Sem ações concretas, sem fiscalização, sem incentivo e, principalmente, sem consciência coletiva, o que deveria ser um marco cultural vira ruína anunciada.

A situação do prédio do Poupatempo é exemplar, infelizmente não por boas razões. Recentemente a pintura predatória do embasamento do prédio não foi um acidente — foi vandalismo. E ainda que o erro tenha sido reparado, isso não apaga a negligência anterior. O edifício é parte do conjunto da antiga FEPASA, que por sua vez se degrada visivelmente. Muitos daqueles módulos estão em ruínas, contrastando com a boa instalação atual do Poupatempo. Uma contradição viva, mesmo com o poupa tempo sendo sobrecarregado e mudando seu princípio de agilidade.

O problema vai além da estética ou da estrutura: é uma crise de entendimento sobre o valor dos bens culturais. A legislação de tombamento, por si só, é vaga e insuficiente. Não existe um regramento claro para a conservação, tampouco uma linguagem ível para que a população compreenda e participe desse processo.

E falando em responsabilidade, ela não pode ser terceirizada. A maior parte recai, sim, sobre os proprietários desses imóveis e, claro, sobre a população. Mas onde está o poder público? Onde estão as campanhas educativas, os incentivos fiscais, o e técnico? A cidade não pode esperar que apenas o IPHAN faça o trabalho — especialmente quando o próprio Inventário de Patrimônio Cultural de Jundiaí está parado há mais de uma década.

É possível, sim, modernizar e adaptar imóveis tombados sem agredi-los. A arquitetura contemporânea não é inimiga da história — é, ou deveria ser, sua aliada. Mas para isso é preciso respeitar as diretrizes internacionais, como a Carta de Veneza, e aplicar conhecimento técnico real. A distinção entre o novo e o antigo precisa ser clara, mas também precisa ser feita com qualidade projetual.

O restauro não é apenas um desafio técnico; é também político. É preciso coragem para multar quem abandona, mas também sabedoria para incentivar quem quer conservar. Políticas públicas que oferecem descontos de IPTU, consultoria técnica em arquitetura gratuita e facilitação de projetos bem fundamentados são fundamentais.

O arquiteto, nesse contexto, não é um decorador de fachada: é um agente de transformação urbana. Mas ele precisa ser ouvido. É necessário que o poder público não ignore as contribuições da arquitetura para o patrimônio histórico.

Preservar a história é, acima de tudo, um ato de responsabilidade com o presente. Não se trata de conservar o ado como um quadro intocável, mas de garantir que ele continue fazendo sentido e servindo à população. Um bem reconhecido não é uma peça de museu. É parte viva da cidade — e cabe a todos nós impedir que ele desapareça.
 
Eduardo Carlos Pereira é arquiteto e urbanista ([email protected])

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