OPINIÃO

Economia circular deixou de ser escolha


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São Paulo foi palco, na semana ada, do Fórum Mundial de Economia Circular (WCEF2025, na sigla em inglês), maior evento global sobre o tema. Cerca de 1200 convidados presenciais e quase 10 mil participantes online, entre especialistas em sustentabilidade, lideranças dos setores público, privado, acadêmico e da sociedade civil, se reuniram em debates de fôlego diante da convicção de que é imperativa a mudança do sistema linear (extração de recursos → Produção → Consumo → Descarte) para o circular (extração de recursos → Produção → Consumo → Reutilização→ Produção).

Pela primeira vez na América Latina, o evento – idealizado pelo Fundo de Inovação da Finlândia (Sitra) e realizado conjuntamente com a Fiesp, o Senai-SP, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e o Senai Nacional – mostrou que é preciso multiplicar políticas, investimentos e inovação em prol do crescimento econômico sustentável.
Dados mostram que é necessário viabilizar alternativas para enfrentar a virtual escassez de recursos naturais e de matérias-primas. O Global Resources Outlook, por exemplo, aponta que o uso de materiais crescerá 60% até 2060, no mundo, com riscos de esgotamento das riquezas. Já o relatório do Internacional de Recursos (IRP) indica que o elevado e crescente consumo de materiais no mundo atingiu aproximadamente 100 bilhões de toneladas por ano e deverá aumentar 16% até 2050.

Não é uma transição simples, uma vez que os modelos lineares são seculares. A circularidade impõe desafios de como lidar com ineficiências, evitar desperdícios, combater a obsolescência, bem como projetar soluções que respeitem as capacidades do planeta.

Como produtora de bens, a indústria é um ator central neste novo modelo produtivo. Com o sistema linear, perde-se muito do valor criado. A ideia da economia circular é recuperar esse valor. Relatório do Fórum Econômico Mundial estima que US$ 4,5 trilhões podem ser capturados até 2030 mudando-se o modelo. Isso representa em torno de 4% a 5% da produção total do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.

O setor financeiro, por sua vez, tem papel crucial para viabilizar esta transição. Porém, levantamento da consultoria KPMG mostra que apenas 2% dos recursos financeiros globais são aportados em soluções de circularidade em setores intensivos em recursos naturais, como a indústria da construção. Ou seja, ainda há um longo caminho a ser percorrido.

Na esfera pública, o Brasil vem avançando no arcabouço regulatório. Dias antes do WCEF2025, o governo lançou o Plano Nacional de Economia Circular com 18 objetivos e 71 ações para implementar a circularidade na economia brasileira nos próximos 10 anos.

Estruturado em cinco eixos (ambiente regulatório, inovação e educação, redução de resíduos, instrumentos financeiros e coordenação interfederativa), traz incentivos à eficiência no uso de recursos naturais, geração de empregos verdes, redução de impactos ambientais e menor pegada de carbono.

Por fim, há o entendimento de que a economia circular é um braço importante para enfrentar a crise climática. Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre clima, que será realizada em Belém, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, deixa uma forte mensagem: “a economia circular é certamente um dos instrumentos de que precisamos para combater as mudanças climáticas o mais rápido possível, em linha com o que a ciência nos mostra. Temos poucos anos – muito poucos – para fazer o que é certo. Precisamos da economia circular”.
 
Vandermir sconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP ([email protected])

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