É inegável.
As redes sociais são ferramentas incríveis que conectam pessoas de todo o mundo: nos últimos anos, se tornaram uma parte fundamental do cotidiano de milhões de brasileiros. Plataformas como Facebook, Instagram, TikTok e Twitter oferecem possibilidades de estabelecimento de relações, informação e entretenimento. No entanto, esse crescimento exponencial também trouxe à tona preocupações sérias sobre os efeitos negativos que essas plataformas podem ter na saúde mental das pessoas.
Estudos indicam que o uso excessivo de redes sociais pode estar associado a problemas como ansiedade, depressão, baixa autoestima e até transtornos de sono. Jovens que am muitas horas navegando por feeds repletos de imagens de vidas perfeitas, por exemplo, tendem a desenvolver uma percepção distorcida de si mesmos, levando a sentimentos de inadequação.
Há um outro problema: o anonimato na internet. Se por um lado ele permite que as pessoas expressem suas opiniões, compartilhem ideias ou busquem ajuda sem medo de serem julgadas ou perseguidas (especialmente em ambientes onde a liberdade de expressão é limitada), por outro, pode incentivar comportamentos negativos, como o cyberbullying, o assédio ou a disseminação de informações falsas. Essa falta de responsabilidade pode prejudicar outras pessoas e criar um ambiente de desconfiança que afeta diretamente a saúde emocional das pessoas. Sem falar que é adubo potente para a polarização, em que opiniões extremas se intensificam, dificultando o diálogo e a compreensão mútua.
Notícias falsas sobre saúde, como rumores de que determinados medicamentos ou vacinas são perigosos, o que pode levar as pessoas a evitarem tratamentos importantes. Ou boatos políticos, onde informações incorretas ou manipuladas são compartilhadas para influenciar opiniões eleitorais ou criar confusão durante períodos de eleição.
A tecnologia, embora com inúmeros e inegáveis avanços, também apresenta esses e muitos outros impactos negativos na sociedade.
Levando em conta o Brasil, essa questão ganha ainda mais relevância devido à alta taxa de uso de redes sociais. Segundo dados de pesquisas, mais de 60% da população brasileira utiliza essas plataformas.
Isso, por si só, reforça a necessidade de uma regulação eficaz. Ela pode ajudar a criar um ambiente mais seguro e saudável, impondo limites ao uso de algoritmos que incentivam o consumo excessivo de conteúdo e combatendo a disseminação de informações prejudiciais. Países como a União Europeia já estão avançando nesse sentido, com leis que obrigam plataformas a serem mais transparentes e responsáveis.
No Brasil, a implementação de políticas regulatórias específicas para as redes sociais é fundamental para proteger a saúde mental da população. Isso inclui a obrigatoriedade de mecanismos de denúncia eficazes, limites de tempo de uso para menores e campanhas educativas sobre o uso consciente das plataformas.
Sem regras claras, as redes podem continuar a priorizar o engajamento a qualquer custo, muitas vezes às custas do bem-estar dos usuários.
Mas será que estamos prontos para discutir isso antes de uma tragédia maior do que as que já aconteceram? Quantas crianças precisarão morrer? Quantos políticos despreparados mas lacradores vão continuar enganando o povo?
Não podemos politizar esse debate. Não é uma bandeira.
É uma discussão obrigatória. E cada vez mais inevitável.
Samuel Vidilli é cientista social ([email protected])