Engolir as lágrimas não é fácil. Exige um esforço sobre-humano. Falo sobre o choro verdadeiro de dor, emoção ou alegria. Com aquilo que doi, tenho aprendido a me dependurar na Cruz e a me aconchegar nos braços chagados do meu Salvador e Amigo.
O menino chegou até nós em pranto. Disse que a irmãzinha, de alguns meses, morrera. Embora não viesse muito bem, com doenças mais comuns na mudança de tempo, estava ao lado dela quando parou de respirar. A mãe ligou para a ambulância, contudo não havia disponível. Saiu com a bebê ao colo gritando e acenando. Um carro parou e a levou à UPA. Lá, conseguiram reanimá-la. Soubemos mais tarde. O menino chorava muito e nós também. Impossível ficar indiferente. O primo chorava na mesma intensidade. As meninas e os meninos do projeto, demais solidários com ele, em abraços, ombros e palavras.
Quando alguém parte, independente da crença, ressuscitam lutos nossos mais próximos e distantes. A ausência de quem amamos, mesmo que convertida em saudade, deixa uma semente de agapanto, que floresce orvalhada.
Naquela hora, não havia ninguém em sua casa. Éramos, sem vínculo familiar, os únicos a acolhê-lo em sua perda. adas duas horas, uma das integrantes da equipe do local questionou: “Que teria acontecido com a nenê na UPA? Por que ninguém fizera contato?” Conseguiu falar com a mãe. A menina havia sobrevivido. O diagnóstico, bronquiolite. O suspiro e o sorriso do menino ao saber que a irmãzinha sobrevivera envolveu o espaço. A conclusão de que a irmã estava morta, ao perceber que não respirava, foi dele. Há alguns meses, pela distância do pai, se fizera o homenzinho da casa e dessa vez não conseguira ajudar a bebê e a mãe.
Penso nos lamentos nossos, nas lágrimas represadas em nossa história por motivos tantos. No domingo ado, o Padre Márcio Felipe de Souza Alves, em sua homilia no Santuário Diocesano Santa Rita de Cássia, onde é Reitor, fez uma colocação a respeito da intimidade com Deus e as dores, que são comuns ao ser humano. Destacou um versículo do Livro do Apocalipse de São João (21, 4): “Deus enxugará toda lágrima de seus olhos”. Completou sobre Deus enxugar as lágrimas também do nosso coração. Quantas lágrimas, ao longo dos anos, represadas, sem vida. Águas mortas. E a intimidade com o Senhor acontece a partir do novo mandamento proclamado por Jesus (João 13, 34): “Amai-vos uns aos outros como eu Vos amei”. Pela idade do menino, seria sem propósito lhe dizer sobre essas lágrimas angustiantes, que vão e vêm, que muitos de nós transportamos, sem identificar do que são sequelas.
Ao escrever sobre dor, me vem Santa Rita de Cássia, cuja memória a Igreja celebra hoje. Ela que foi modelo de força, resiliência, amor e confiança em Deus, do sofrimento em sintonia com o Calvário, por isso não se entregou ao mal. Ao pedir um estigma de Jesus, recebeu um espinho que permaneceu em sua testa, transformou-se em ferida, exalava mau odor e se transformava em prece.
Você pode cuidar de sua intimidade com Deus e de suas dores sob a intercessão de Santa Rita de Cássia. Participe de uma das Missas de hoje: às 7h, 9h, 12h, 15h e 19h30 no Santuário Diocesano no CECAP.
Procure entender como ela: “Todas as coisas são possíveis por meio da oração. Todas as coisas”.
Maria Cristina Castilho de Andrade é professora e cronista ([email protected])